terça-feira, 27 de julho de 2010

Confira a entrevista com a escritora norte-americana Tamara Park, autora do livro 'Encontros Sagrados – de Roma a Jerusalém'

Lançado no Brasil pela Garimpo, a obra conta a aventura de Tamara por espaços de interação entre cultura e espiritualidade. A seguir, ela nos conta como foi essa experiência:

O que você achou do seu livro ser traduzido para o Português? O que os leitores brasileiros podem esperar?

Fiquei emocionada ao saber que o livro estará disponível em Português. Minha esperança é que o leitor se sinta como se estivesse nessa incrível jornada comigo, que minhas perguntas provoquem indagações, e que a história seja um estímulo para conversas significativas com os amigos. Espero que o leitor tenha uma visão maior e mais fiel de Deus, de outras culturas e de si mesmo. Espero que o leitor dê risada (provavelmente vai rir de mim e da minha capacidade impressionante de me meter em confusão, como quando jantei com espiões da Síria). Estou muito honrada, obrigada desde já, e mal posso esperar para visitar seu lindo país... e talvez saborear uma conversa com vocês!

Seu livro mostra uma série de problemas em diferentes culturas, de estagnação econômica a conflitos étnicos. Você pode dizer qual história te tocou mais durante a viagem?

O ponto de vista de Beldad, um vendedor de tapetes na Capadócia, Turquia, foi uma das mais marcantes. Ele dizia que se um muçulmano fosse para sua cidade e não tivesse um lugar para ficar, alguém certamente o hospedaria. E me questionou que se nos Estados Unidos há tantos cristãos, e cristãos ricos, por que há também tantas pessoas sem teto? Essa pergunta me fez engolir num gole o chá que seu ajudante me trouxe e sentar-me em silêncio

Na América, 600.000 pessoas dormem nas ruas. A pergunta de Beldad me levou a indagar se qual era o papel da igreja cristã no mundo. Eu levei essas questões a conversas com um padre católico na antiga cidade de Antioquia, com freiras em Sednaya e na Síria e com um arcebispo grego em Jerusalém. Minha igreja realiza trabalhos com os sem-teto da cidade e aspira conseguir alcançar os marginalizados de forma significativa.

O que representou, na sua vida, a peregrinação feita pelos caminhos sagrados das maiores religiões do mundo?

Foi uma experiência que revelou um dos meus maiores conflitos espirituais. Fiquei exposta a um profundo desejo de não dever nada a ninguém. Essa não é uma visão da qual eu me orgulho. Ao longo da jornada, pessoas de diferentes crenças me presentearam e me acolheram e eu ficava cada vez mais irritada por não poder retribuir tanta gentileza. Meu senso de equilíbrio – e controle – ficou completamente abalado pela generosidade de estranhos.

O curioso é que os significados mais profundos da viagem entraram em foco quando eu já estava em casa. Conforme eu refletia sobre a jornada, descobria que Deus estava comigo o tempo todo e que Ele tinha usado duas das minhas coisas favoritas na vida – viagens e conversas – para Se revelar a mim.

Levando em conta que seu livro é também um guia de viagem, quais lugares são imperdíveis em Roma e em Jerusalém, por exemplo?

Em Roma os locais turísticos (como o Coliseu e a Capela Sistina) são obrigatórios, surpreendentes e irritantes, se você não for um grande fã de multidões te empurrando loucamente. Claro que você deve visitá-los, mas deixe-se apaixonar por Roma em algum lugar menos público.

Coma pelo menos uma refeição sob o brilho das estrelas e ao canto dos ciganos. Descobrimos um lugar perfeito perto do Pantheon. Não perca a oportunidade de conversar com outros peregrinos. Minha visita a Roma foi muito mais memorável porque eu convidei os outros a ela. Convidei estranhos a refletirem sobre uma questão importante para mim. Convido você a fazer o mesmo.

Morei em Jerusalém por um ano, então sinto como se fosse uma segunda casa. Gostaria de levá-los pessoalmente para conhecer pessoas como meus ex-vizinhos palestinos, que amam o futebol brasileiro! Ir a um telhado específico no bairro armênio para ver o nascer do sol sobre o monte das Oliveiras, comprar tâmaras e húmus frescos para o almoço e com o sol se pondo, caminhar até o Muro das Lamentações. Espero que você vá até Roma e Jerusalém, e faça muitos amigos pelo caminho.

Como foi o processo de escrita? Você carregava um diário para fazer anotações?

Gravei entrevistas no meu iPod e num notebook e escrevi ao longo do caminho. Por mil motivos diferentes minha vida tomou um rumo devastador quando voltei da peregrinação. No ano seguinte à viagem, eu chorei mais do que já tinha chorado em todos os outros anos juntos. No entanto, conforme fui relembrando as histórias das pessoas que conheci e fui escrevendo minha própria história, a esperança se renovou. Escrever o livro me trouxe de volta à vida. Gustave Flaubert disse: "A arte da escrita é a arte de descobrir o que você acredita”. Eu certamente tive essa experiência quando escrevi Encontros Sagrados.